terça-feira, 17 de julho de 2007

Cabelo

Meu nome é Cabelo e eu sou o mordomo da casa.
Na verdade, claro que meu nome não é Cabelo, é só apelido. Mas é daqueles apelidos universais, que passam a fazer parte da pessoa. Sabe como é, eram os anos 70 e eu tinha uma juba de responsa. Agora não sobrou muita coisa, virou ironia. Muito pouca gente conhece meu nome verdadeiro, Thelonious. Nada a ver com o jazzista, meus pais nem gostavam de jazz, acho que foi pra me sacanear mesmo. Minha mãe tinha muito senso de humor, uma vez quebrou um pau de macarrão na cabeça do meu pai e ficou rindo por horas.
Mas têm nomes piores; minha irmã, por exemplo, chama Tênia. Era pra ser uma homenagem para minha avó Tânia, mas meu pai estava de pileque quando foi no cartório registrar. A Tênia puxou o senso de humor da minha mãe, tacou ácido no nariz de um cara que perguntou se ela era Solium ou Saginata.
Bom, mas isso não vem ao caso. É que eu estou nervoso e quando fico assim começo a tergiversar. Que nem no ginásio, quando o diretor me chamou na sala dele porque me pegaram fumando no banheiro e eu acabei revelando todo o esquema que a gente tinha de roubo de provas antes de falar oi. O pessoal da minha classe que não reagiu bem, me deixaram preso no armário um fim-de-semana inteiro. E agora essa merda desse velho morto.
Vou tentar começar de novo. Eu sou o mordomo da casa, ontem teve essa festa, veio um monte de gente que eu nunca tinha visto e o velho acabou assassinado. É óbvio que está todo mundo me olhando como se eu fosse o culpado; a culpa é sempre do mordomo até prova em contrário. O mordomo é uma espécie de judeu das profissões, o cara pode morrer de tétano que com certeza vai ter alguém culpando o mordomo pela ferrugem do prego. O sindicato devia pedir para a ONU dar um país para a gente. Sei lá, talvez a Uganda, um lugar onde os mordomos finalmente pudessem viver em paz, entre os seus. Se deu certo com Israel...
Mas voltemos ao velho. O Seu Austregésilo era um baita filho da puta, que ninguém duvide disso. Inclusive dizem que sua mãe antes de dormir dizia “enfim juntos” para os próprios joelhos. Não vou enganar ninguém dizendo que estou triste pela morte do velho. Acho até que já foi tarde, com todas as suas esquisitices. O desgraçado me obrigava a jogar War com ele por dias seguidos! Ele jogava com cinco cores e eu só com uma, e se mesmo assim eu estivesse ganhando, ele dava um jeito de bagunçar o tabuleiro gritando: “ataque kamikaze”. Perdi a conta de quantas vezes tive vontade de matar o desgraçado. Mas dessa vez não fui eu, juro!
O fato é que se deixar isso na mão da polícia eu estou fodido. Ainda mais que provavelmente quem vai pegar o caso é o delegado Palhares e ele não vai com a minha cara já faz tempo. Nós já tivemos vários desacordos sobre questões de direito de propriedade, se é que vocês me entendem. Discutíamos muito também sobre a aplicação das leis, principalmente as da física. É que, melhor confessar logo, eu não sou só o mordomo da casa. Eu fazia alguns servicinhos extras para o Austregésilo de vez em quando; como convencer gentilmente alguns associados dele a pagarem dívidas vencidas. Não tenho culpa que algumas pessoas tenham ossos tão frágeis.
Como dizia aquele cara: festa estranha, gente esquisita. Já trabalho para o velho faz doze anos, mas mesmo assim tinha muita gente nessa festa que eu nunca vi. Pelo que eu sei, o velho chamou várias pessoas com quem tinha que acertar contas antigas. Um grupinho bem heterogêneo: empresários, jogadores de pôquer, agiotas, roqueiros...
Eu fiquei rodando entre os convidados. Esse é meu único álibi, fiquei o tempo todo no andar de baixo, mas dependo de gente de pouca confiança para confirmar meus movimentos. Lembro de ter visto um cara oferecendo um drink para uma samambaia, de ter passado uma cantada numa striper, ou pelo menos uma garota que eu achei que era striper; e de um cara que passou a mão na minha bunda sem pedir permissão, o que me deixou muito chateado.
Tinha um rapaz sorridente que parecia estar em dois lugares ao mesmo tempo, talvez um ilusionista; e um outro que parecia ter uma lesma saindo do ouvido. Tinha um velho que jurava ter sido um imitador de Michael Jackson em outra encarnação e juntou um grupinho a sua volta enquanto tentava reproduzir o moonwalk.
Fui eu que encontrei o cadáver já perto do fim da festa. Foi a primeira vez na noite que fui para o segundo andar. A primeira idéia que me veio à cabeça foi chamar o Neneco. Eu sei que não foi uma idéia que se possa dizer: “supimpa, que idéia genial!”. Mas o que se vai fazer? É minha única chance de descobrir o assassino antes do Palhares me colocar no pau-de-arara. Eu e Neneco temos que desvendar esse mistério o mais rápido possível!

28 comentários:

Anônimo disse...

Vim por indicação da Fal. Agora estou curiosa, não demorem a postar hein! ;)

Ai, ai, mais um vício nessa internet!

Anônimo disse...

Supimpa.

Mymi disse...

Ah, eu adorei!
Meio culpado, mas eu acho que não foi você quem matou o velho. As estatísticas estão falhas!

Anônimo disse...

Sorry, eu acho que foi você. Evidências: além de ser o mordomo, você encontrou o corpo. O primeiro suspeito é quem encontra o corpo. Se quem o fizer for o mordomo, aí já nem é mais suspeita, é certeza mesmo.

Quero dizer, eu acho até o próximo texto. Eu sou volúvel.

Já tô até vendo... Isso aqui vai ficar ótimo!

Andréa Z. disse...

Sensacional! (risos)

Anônimo disse...

Eu não disse que essa gente é tudo preconceituosa? Então eu ser o mordomo já é evidência? E fui eu que avisei que o desgraçado tinha morrido. Provavelmente tem mais gente que viu o velho morto e ficou na moita.

Unknown disse...

vc já é meu perssonagem preferidooooooooooooooooo.

adoro mordomos. uhauhauhaauhu
inteligentes e sagazes...
mas não acho que tenha sido vc não..a não ser que vc seja muuuito dissimuladoooo..
hummmm, será?!?

*adoreiii!!

Anônimo disse...

Vovó Agatha me disse que foi você, que todo mordomo é dissimulado, mas espero que seu alibi demore a ser derrubado pq quem sacou a história está de parabéns. Sensacional!!!!

Anônimo disse...

A-DO-REI....
quero maissssss

Anônimo disse...

Cabelo..
Acho dificil que seja vc.. Mas, por enquanto, estou esperando conhecer os outros personagens pra ter certeza...
Aposto na tal Stripper! ahahhaha

f. disse...

Ah, Cabelo, rola uma história por aí que teu apelido é Naná!

Rodrigo Broilo disse...

Muito bom isso aqui!
Não minha opinião foi o cara da piada do pavê! é sempre o piadista!

Anônimo disse...

A história até que é legalzinha, e como qqr mistério desperta curiosidade e vontade de saber o final... mas o estilo literário é lastimável. A internet permite que qqr um ache que é escritor e saia escrevendo. E o Brasil permite que qqr historinha legal seja vista como boa literatura, pq ninguém presta atenção ao estilo, só ao conteúdo. LAMA.

Anônimo disse...

Curti essa idéia do locutor ser o Mordomo e o Detetive tbm ter acesso ao blog... Vamos ver pra onde vai! :) Bem legal.. Vou acompanhar.
Henrique.

Anônimo disse...

Só sei que não fui eu... Eu estava com a Carminha...

E esse mordomo, pra mim, é quase tão desgraçado quanto o feladaputa do meu pai, digo, tio, primo, neto-avô-afilhado!?

Aaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhh!

Anônimo disse...

já temos um exu por aqui?

sensacional!

Anônimo disse...

Naná, Fal? Conta quem tá falando isso que eu quebro as pernas! (Se bem que tem uma tia minha que me chama até hoje de Telinho).
Obrigado pelas manifestações de apoio.
Concordo que o Neneco tem um estilo literário lamentável. Ainda bem que ele não precisa ganhar a vida escrevendo.

*Renata Costa* disse...

Alguns escritores são para raios de exu =P

o que não impede que a hist´roai e a trama estejam cada vez mais envolventes

Go Confraria, Go!

Mymi disse...

Sem Prêmio Jabuti pra você, Cabelo.
Lamentável, tsc, tsc.

=D

Mahaaka - Aum Budhaia Namarrá disse...

gostei da idéia do blog ser um livro aberto ainda(será?), qualquer coisa pode rolar!
Não tenho muitos suspeitos pra levantar algum, mas acho que o assassino foi o tenente pincel com um candelabro no quarto! ao melhor estilo detetive de tabuleiro!
continuarei seguindo as deixas e, apunhalando!!! (note que não sou assassino, foi um jogo de palavras!) hauhauaha

beijos gregos!

Anônimo disse...

Achei uma fraude.
Quero fodelança.
Estilo literário de cú é rola.
A gente escrevemos mal e subimos pra sima e descemos pra bacho e é isso ai.

Anônimo disse...

bom, muito bom ;P

Lord of Waters disse...

Olha, eu não tiraria a razão do Cabelo se ele fosse o culpado. Eu já joguei War com gente como o Austregésilo. =P

Mas acho que já descobri algo. Ou fui induzido a descobrir algo. De qualquer forma tenho um palpite e acho que o buraco é mais embaixo.

Anônimo disse...

O assassino é, sem dúvidas, o cara que imita Michael Jackson. Somente pessoas muito avançadas na escala de evolução humana conseguem fazer o moonwalking! É ele, pode anotar. :P Tá ótimo o blog, viciei!

Anônimo disse...

Cabelo, eu sinto a sua dor... Meu primo joga War que nem o Austregésilo...

f. disse...

Eu já apaixonei nesse jones, que homem maravilhoso!
Caras, pq será que gente se divertindo incomoda tanto? Porra, arruma uma diversão procê tumém, fia! (hum, e se a diversão dela for encher nosso saco? faz sentido)

anyway, jones, te amo.

Lady Sith disse...

Já estou ligada na estratégia deste tal de Cabelo (filho, seu nome é horrível mesmo. Mamãe também teve alguns ossinhos quebrados?). Ele vai ficar posando de vítima representante da classe pobre e oprimida e irá tergiversar para ver se engana o primo obtuso com seu jogo de palavras. Tô de olho no senhor.

Anônimo disse...

bom comeco