quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Heracles Calvante

Enquanto para alguns, Austregésilo é um muito bem-sucedido industrial – e como muitos, um sem-vergonha de primeira categoria – e para algumas ele é um coroa bem apessoado – leiam cheio da grana – e pervertido, para mim o desgraçado não passa de um grande feladaputa!

Mas por que tanta revolta? Por que tanta raiva dele?

Pois bem, o velho – se é que ainda joga nesse time – sempre gostou de uma ninfeta, mas ele gostava tanto dessa característica que sequer se importava em traçar a Lolita da irmã mais nova. E sim, adivinhem quem é o desafortunado resultado dessa união incestuosa? O bastardo aqui!

E, enquanto bastardo, é claro que o feladaputa desgraçado sempre me tratou como um desqualificado de terceira categoria. Eu definitivamente não aprendi nada sobre amor paternal, a menos que “sádico” seja a nova gíria que andam usando para pai.

Fora que essa história toda sempre me confunde demais. Afinal, eu sou filho do meu tio? Sobrinho da minha mãe? Primo segundo do meu pai? Tio avô de meus próprios filhos?

Pois se já não bastasse o fato de ser tratado como lixo e isso tudo ter me tornado a pessoa mais confusa que conheço, ele ainda acabou com a minha maior ambição: tornar-me o maior escritor do mundo! E como ele fez isso? Simplesmente roubando o original do livro que escrevi há muitos anos, o melhor livro já escrito em toda humanidade, o livro que me tornaria reconhecido mundialmente como o maior, mais criativo e inteligente escritor do mundo. Sem deixar de lado a modéstia, é claro.

Bastou que ele lesse a minha exuberante obra para decidir que – para o meu próprio bem, diria depois Austregésilo, enquanto ria insanamente da minha cara bastarda – ele, através de um simples engôdo, me tomasse o original e guardasse a sete chaves no cofre de seu escritório.

Então, só para frustrar de vez a minha vida, ele me obrigou a trabalhar como professor em uma das péssimas escolas para seus funcionários, num regime de semi-escravidão, impedindo que eu me desenvolvesse de qualquer maneira longe de suas garras.

Bom, depois de tudo isso que ele já me fez, o fato de ter nascido com dois pés esquerdos – maldito incesto, maldito incesto! – parece até para mim algo simples e de menor importância, apesar de ter que gastar uma fortuna em sapatos, pois tenho sempre que comprar dois pares de cada, para usar somente os pés esquerdos. Senhor, até isso é culpa dele!

Mas continuando, como eu dizia antes, se já não bastasse tudo isso que o desgraçado do meu primo segundo, digo, do meu pai-irmão, digo, do meu..., ah, do feladaputa me fez ele ainda decidiu aumentar o grau de sadismo da nossa relação, me dizendo há alguns dias que iria me tirar de seu testamento.

Caralho, depois de tudo o que já passei nessa vida por culpa dele, é muito injusto que eu não fique com a fatia do bolo que me é de direito quando o desgraçado resolver embarcar para o inferno que lhe está reservado. E a fatia, mesmo que pequena, há de ser considerável, pois apesar de ser o monstro inescrupuloso que é, se tem uma coisa que ele sabe fazer nessa vida, é dinheiro!

Então eu tinha que falar com o velho de qualquer maneira, de forma suficientemente persuasiva, para obrigá-lo cruelmente, digo, para convencê-lo suavemente a mudar de idéia quanto a isso. Tenho certeza que a leve ameça de divulgar todo o tratamento que ele dispensou à minha finada mãezinha, desde sua época de lolita, até a sua morte suspeita e desamparada, o faria mudar de idéia. Caso contrário, bem, uma pessoa desesperada – e temporariamente insana – é capaz de muitas coisas, não é mesmo?

E não é que, enquanto matutava para descobrir uma forma de fazer o sobrinho-irmão bastardo do desgraçado do Austregésilo mudar essa história de ficar fora do testamento, o próprio velho sádico criou a oportunidade: sua festa de aniversário!

Sim, essa festa seria perfeita - apesar da corja de familiares e amigos, não menos inescrupulosos e indecentes do que o velho - para me dar uma oportunidade de falar a sós com o velho. Então, vestindo o meu melhor pior terno herdado do sem-vergonha do meu primo-avô, esperei até o dia – sim, esperei diversos dias já vestido, a escola estava em período de férias e eu não tinha mais o que fazer mesmo – da festa, quando saí de encontro ao meu destino.

E ao destino do meu “paizinho querido” – finalmente acertei? –, é claro!

Pois chegando à festa do velho feladaputa, não me surpreendi com o clima ameno e agradável que envolvia o grupo de convidados. Ah, que sensação reconfortante era ver tanta gente com raiva da mesma pessoa. E olha que ninguém falava comigo, pois quem se dignaria a falar com o neto-compadre bastardo do anfitrião?

Dessa forma, a única coisa a fazer era ir direto ao encontro do velho. Talvez pela minha cara nada amigável, ou ao cheiro oriundo dos dias de espera já vestido – era verão, meus amigos – todos abriam caminho para mim e não foi nada difícil chegar ao lado do velho e chegar dizendo, usando nossos tratamentos já costumeiros, é claro: “Você quer que eu comece a jogar a merda no ventilador daqui mesmo ou prefere um lugar mais tranqüilo, hein, feladaputa?”

Não para a minha, mas talvez para a surpresa de alguém desavisado, o velho deu um tapa na bunda do garçom que passava ao seu lado naquele momento – ou seria algum ícone do pornô nacional que também era convidado? Admito que acredito já ter visto o elemento em algum antro – o velho riu de maneira mais sádica do que o usual e me disse para ir ao seu escritório.

Acontece que no caminho algo me interrompeu. Não é que, apesar de andar um tanto quanto afeminado ultimamente, o velho feladaputa ainda não havia perdido o seu gosto por lolitas? Digo isso, pois nesse instante avistei a nova camareira da casa, Carminha, uma coisinha linda de apenas dezessete aninhos que, a julgar pelo seu olhar obsceno, fazia muito mais do que apenas arrumar os quartos da mansão.

E não é que nesse momento esqueci de tudo, até mesmo do velho feladaputa? Acontece que se tem algo que eu puxei do velho, não foi a sua capacidade de fazer dinheiro, mas sim a minha grande tendência a me interessar por uma sacanagem, especialmente com uma coisinha linda como a jovem Carminha. Meu Deus, que coisa. Nessa hora, a única coisa em que conseguia pensar era numa forma de conquistar a jovem camareira e traçá-la ali mesmo, na casa do velho, o que certamente seria uma ofensa.

Logo de cara tentei apelar para seu gosto literário, o que não deu muito certo, pois Carminha não era do tipo que lia. Quando ela já estava quase indo embora, cansada de minha tentativas frustradas, apelei para o extraordinário, contando-lhe sobre meus dois pés esquerdos!

Ah, como foi lindo ver seus olhos brilharem ante a eminência do bizarro! Ela queria ver esse prodígio da natureza e, disposta a tudo, me acompanhou ao quarto do velho, onde ela veria meus dois pés esquerdos. Além de outras coisas, é claro.

Depois de algum tempo – eu já nem pensava no velho – estava admirando toda a exuberância juvenil de Carminha espalhada na cama, quando aquele mordomo esquisito do velho entra correndo no quarto e, sem nem reparar na doce camareira completamente nua a admirar meu sedutor par de pés esquerdos, – ele não reparou na Carminha pelada! – começa a falar algo. Percebe-se que usei esquisito como eufemismo para outra coisa, não é mesmo.

Em meio a suas palavras desconexas e nervosas – tenho certeza de que ele narrará a história depois todo controlado, como se fosse um mordomo inglês – ficou claro que algo muito errado estava acontecendo. O velho tinha sumido por um tempo e o encontraram morto, sem que ele tivesse tempo de saber que eu tinha comido a Carminha.

Agora todos eram suspeitos e, assim, até morto o velho me atrapalhava. Eu queria voltar para junto da daquela coisinha linda e indecente, mas um detetive metido a “Ed Mort” tinha chegado para entrevistar a todos e eu teria de esperar para ver o que aconteceria.

E quanto ao velho ter aparecido morto? Feladaputa como era, tenho certeza de que muita gente queria vê-lo assim. Já eu, só quero continuar “mostrando” meus pés esquerdos para a Carminha...

16 comentários:

Raquel disse...

Mais essa agora! Eu acho que foi tudo uma conspiração do Naná com o Danton e o Tio Vladimilson, que o Nana diz que não existe só pra despistar o Neneco. Aliás, o Tio Vladimilson vai acabar se revelando o verdadeiro pai do Héracles (ou será o Héracles o verdadeiro Vladimilson?)
Ai, tô confusa!

Anônimo disse...

E o melhor livro j� escrito em toda a humanidade n�o ganhou sequer uma sess�o de aut�grafos na lavanderia!! :)

Mymi disse...

Estou começando a achar que foi tudo crime passional. Varejão matou Astra por ciúmes de Cabelo!

Heracles está muito inocente. Daquele tipo que tem a arma na mão, mas fica com dó na hora de apertar o gatilho.

Anônimo disse...

E o cara que fez a piada do pavê quem é? Ele é o criminoso!

Lord of Waters disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lord of Waters disse...

Muito bom.

Agora que parei para pensar. E se foi mais de uma pessoa que matou o o velho? Podem ter sido três pessoas em ocasiões diferentes. Uma colocou veneno em seus acepipes, outra esfaqueou e outra tentou atirar mas não conseguiu porque estava bêbada. É, até que faz sentido.

Anônimo disse...

Mymi, vc já está sendo seduzida pelo charme grotesco Héracles, por favor, né? Achar que ele é inocente? Um cara com dois pés esquerdos NUNCA é inocente.

Anônimo disse...

o culpado é o comentário excluido!

Raquel disse...

Ah... agora muita coisa faz sentido!

Anônimo disse...

Muito, muito bom:)

Anônimo disse...

Nem vem que não tem sua mona maldita. DNA jáááááááá.

Anônimo disse...

danton, danton, danton...

o velho era, como vc diria, um sá-di-co... mais do que possível que ele me escondesse a vida toda, não é mesmo?

ah, agora só uma coisa: eu tinha certeza que esse cabelo era peruca mesmo!

Anônimo disse...

Vou te mostrar minha peruca.
Aliás, Hercílio, eu nem ia falar nada, mas você não tem dois pés esquerdos. Você tem um pé direito defeituoso.

Anônimo disse...

inveja é uma merda mesmo, seu peruca duma figa!

Anônimo disse...

gente, o heracles é estranho, admito. mas seus dois pés esquerdos são uma graça!

fico toda arrepiada só de lembrar, hihihihi.

Lady Sith disse...

Esse depoimento só me fez confirmar as minhas suspeitas. O Danton já sabia da existência do filho-sobrinho-primo em segundo grau bastardo. Por ser o consultor astral do velho, convenceu a tirar o Heracles do testamento. Então ele e o Naná se uniram para matar o velho e jogar a culpa no Herácles. Rá, matei o mistério.