quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Mano Vlad

Fala aí, Cabelo! E aí, Neneco, tudo certo, camarada? Tudo beleza? Joinha, joinha? Que é que foi, rapa? Tão me reconhecendo não? Faz tempo, né?

Peraí, num tão lembrados mesmo? Tem caô não! Ceis vão se lembrar, deixe estar.

Se eu conhecia o velho Astor? Austregésilo, grande companheiro de batucada! Mais conhecido na Vila Nhocunhé como Gegé da Cuíca, rapaz! Ééé... o tiozinho mandava na cuíca como poucos lá no Sambão do Orozimbo!

Pô Neneco! Como assim, “onde fica a Vila Nhocunhé”? Ta precisando levar uns cascudos no escutador pra ver se dá linha? A Vila Nhocunhé, cumpadi, lá onde a Delzidete mora, pô! Que Delzidete? Ai, carai... ceis vão lembrar.

Mas então, como eu tava dizendo, o Astorzinho era camarada da molecada do Bar do Orozimbo. Nunca vi um tiozinho mandar tão bem num ovo cor de rosa que nem ele! O Zimbo tinha um pote com o nome do Gezinho no balcão! Tudo bem que na hora da cuíca cantar o Gegé parecia um canhão em desfile de 7 de Setembro, soltando tanta bufa na rodinha... Cada gorfada de ar que era quase uma guerra química!

Hein? Se eu tava na festa? Ceis dois fazem cada pergunta... claro que eu tava na festa. Se eu não tivesse lá, o que que eu ia tar fazendo aqui? Matando saudades? Eu vim. Ah, eu vim... eu vim de lá pequenininho... mas eu vim de lá pequenininho... tá, eu paro de batucar. Eu fui na festa. O Gegé me convidou, queria que eu fosse lá ver a Carminha ao vivo, vestida de copeira. Ele tinha que esfregar na minha cara que a Carminha era dele agora.

Velho gagá, brocha de uma figa! Achava que podia ficar circulando pela Vila Nhocunhé, tocar nossa cuíca, comer nosso ovo cor de rosa e ainda por cima roubar a Carminha? Podia não! A gente é pobre, mas tem orgulho, cara! Neguinho num chega assim chegando nas nossas paradas não! Só porque ele tinha dinheiro, morava numa mansão e tinha um cofre cheio de jóias achava que podia roubar nosso maior tesouro? Justo a Carminha? Tinha nego que cortava até mindinho pra conquistar a Carminha e o velho leva ela embora? Sacanagem, sacanagem...

Como é que eu sei do cofre? A Carminha me contou. Aquela vadia não vale nada... tava lá, desarrumando a cama do veio mas tava passando a fita da casa pra vila inteira. Quando ele me convidou pra festa eu tive certeza que minha hora tinha chegado. Era a hora perfeita: eu fingia que vinha só pra ver a Carminha vestida de arrumadeira – como se eu precisasse! Aquela vadia já desfilou fantasia bem melhor pelo meu pagode, se é que vocês me entendem... – dava uns supapos na careca do velho pra ele entender quem é que mandava, e ainda afanava as jóias, pra garantir a aposentadoria.

Se eu matei o veio? Pô rapaz! Sou da Vila Nhocunhé mas num sô bandido não! Só porque a gente é pobre é suspeito? E justo vocês dois me acusarem? Eu só queria dar um susto nele... mostrar que com a Vila Nhocunhé não se brinca.

Ó! Foi assim: eu cheguei na festa, tava lá, circulando, assuntando pra ver quem era bacana de verdade, pra tentar descolar mais informações sobre o velho. Só consegui descobrir que o Gegé da Cuíca não estava com essa moral toda ali não. Neguinho tava com sangue nos olhos, véio! Queriam acabar com a raça do Gegé! Coisa de louco mesmo. Eu fiquei até com pena de ver tanta gente detestando o velhinho.

Eu não tinha motivos pra não gostar dele. Quer dizer, ele era gente fina, até se meter com a Carminha... ah, a Carminha!

Ah é. Aí eu tava lá, comendo e bebendo do bom e do melhor, pensando o que é que o véio tinha visto no ovo cor-de-rosa do Orozimbo se ele tinha tanta comida boa ali com ele! Aí eu fui atrás da Carminha, entrei num quarto e nada, entrei no outro, nada...

Foi então que eu vi o velho se arrastando pelo corredor, com a boca espumando igual um cachorro com raiva. Tentei falar com ele, ver se dava pra ajudar, mas ele só apontava pra um quadro, eu não entendi muito bem. Ele falava jóia! Jóia! E eu respondia: tá tudo jóia, Gegé. Se preocupa não, não estou com raiva por causa da Carminha!

Mas ele caiu duro! Aí eu desci correndo pra procurar a Carminha e fiquei bem quieto no meu canto, porque neguinho era capaz de achar que só porque eu sou da Vila Nhocunhé eu sou suspeito, né?

Agora eu vou confessar uma coisa pra vocês: tô magoado, cara! Tô magoado mesmo... a gente já passou por tanta coisa juntos e vocês não se lembram de mim? Sou eu, pô, o Tio Vladimilson!

8 comentários:

Marcelo "Muta" Ramos disse...

ahá!

e digo mais: ahá!!!

bem que eu já desconfiava que aquele esquecimento todo do cabelo quanto ao tio vladimilson não passava de algum trauma de infância!

e, em defesa da carminha, digo: ela não é vadia não... ela é só meio excêntrica, só meio excêntrica!:D

Anônimo disse...

Muito, muito bom! Hahahah!

Parabéns!

Anônimo disse...

Hahahahahahaha!

Genial! Sem palavras... Muito, muito bom mesmo!

Luiza Braz disse...

ótimo!!

trechos de Paula Toller no texto...

Eu sempre soube que esse tio Vladimilson aí tinha coisa.

jebar437 disse...

Porra, esse foi bom mesmo.

Anônimo disse...

Hahahaha! Olha, eu não botava muita fé no texto, digo, não estava na minha lista de favoritos, até a última frase. A partir daí tudo fez mais sentido. Entrou no TOP fácil!

Anônimo disse...

Bão demais!!!!! Parabéns, amei o texto.

André, um Jerico
www.ideiadejerico.com

Anônimo disse...

Pô...que final sensacional e altamente revelador! Tio Vladimilson!!!!

Texto muito, muito bom! Perfeito!! Hahahahaha..