quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Daniell Rezende

Meu nome é Daniell Rezende e já não imito o Frank Sinatra há quinze dias.
Trabalho em uma grande empresa da área de derivados de polipropileno. Nunca cheguei a entender o que são esses derivados de polipropileno, porque eu trabalhei quase o tempo todo no setor de luzes de Natal. Eu era um dos responsáveis por comprar as luzes que enfeitariam a recepção da empresa no fim de ano. O trabalho era tranqüilo a maior parte do tempo, mas do começo de dezembro até janeiro era bastante estressante.
Para tornar a tarefa mais leve e agradável, decidi fazer uns desenhos com as luzes. Era um desafio, como eles gostam de dizer aqui na empresa, principalmente porque eu só sei desenhar caricaturas da seleção de 82. E ainda assim, bem mal. Tão mal que ficam mais parecidas com caricaturas da seleção uruguaia de 70. Foi isso que acabou comigo.
Veja você que o presidente da empresa tinha uma bronca qualquer com a seleção uruguaia de 70. Quando viu aqueles meus desenhos, feitos com as pequenas luzes de Natal, quis saber quem foi o responsável. Assumi a culpa e ele achou que devia me transferir para uma área da empresa onde eu seria menos nocivo: o setor de assassinatos da empresa.
Passei a ser responsável por matar as pessoas que faziam lobby contra a produção em massa de derivados de polipropileno. Não são muitas, porque pouca gente sabe o que são os derivados de polipropileno – e a maior parte não acha muito ruim o fato de eles serem produzidos.
Uma dessas pessoas, como vocês devem saber, era o Austregésilo. Era um senhor mau-humorado, do tipo que furava a bola de futebol do vizinho quando caía no quintal dele. Até que cansou de reclamar com os vizinhos e decidiu encrencar com os fabricantes de derivados de polipropileno.
Exterminar o velho era a minha primeira tarefa no novo departamento. Quando souberam que ia haver uma festa na casa dele, deram-me um convite falsificado para entrar. Recebi também um uma foto do Austregésilo vestido de Pernalonga em uma festa a fantasia.
Sou péssimo fisionomista, mas com algum esforço consegui memorizar aquele rosto. Orelhas grandes, pêlos cinzas, dentes em destaque, sempre comendo cenoura. Não seria difícil identificar esse sujeito entre as pessoas da festa.
Sim, eu fui à festa para matar o Austregésilo. Mas isso não quer dizer que o tenha feito. Sou inocente.
Veja você que nunca matei ninguém. Sequer saberia como fazer uma coisa dessas. O teste vocacional que fiz antes de ir pra faculdade já dizia que eu não levava jeito para assassino. Além do mais, não tenho porte de arma. A única arma que me deram para cumprir a missão era um sorvete de chocolate da 4D. No copinho, não na casquinha.
Não entendo como alguém conseguiria matar uma pessoa com um sorvete de chocolate. Se ao menos fosse na casquinha, talvez eu conseguisse pensar em algo.
Então, consegui entrar na festa. Estava bem animada. Alguém havia batizado o ponche ou coisa assim. No tumulto, não conseguia encontrar ninguém que se encaixasse na imagem que eu conhecia de Austregésilo. Conversei com o mágico que se apresentava e ele também não sabia de nada. Tentei ver se o pônei ou os fantoches poderiam me dar alguma dica de onde encontrar o velho. No entanto, ninguém quis abrir a boca. O velho parecia ser influente.
Eu tinha pouco tempo. O sorvete de chocolate já estava derretendo.
Foi quando resolvi circular pela casa e vi um senhor jogado no chão. Pensei que fosse um dos convidados bêbados. Mostrei para ele a foto que eu tinha do Austregésilo e perguntei:
- Você viu este homem?
Ele se negou a falar. Por mais que eu o pressionasse, não dizia nada a respeito do dono da festa. Nem se mexia. Foi aí que suspeitei que o homem estivesse morto. Fiz o teste, para ter certeza: puxei papo sobre o futebol, falei da pouca-vergonha dos cartolas dos grandes clubes. Ele continuou em silêncio. Dei meu preciso diagnóstico:
- É, está morto.
Para não ser incriminado, voltei à festa, agindo como se nada tivesse acontecido e dancei uma polca ou duas com uma das fantoches. Desisti do trabalho e tomei eu mesmo o sorvete de chocolate.
Só depois fiquei sabendo que o morto era Austregésilo.
Não fui eu que matei o velho. Mas, de certa forma, minha missão está cumprida. Talvez consiga um aumento lá na empresa. Ou pelo menos uma vaga melhor para estacionar o carro.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Interlúdio 8

- Sujeitinho esquisito.
- Chato, você quer dizer.
- Também. Pedinte é a palavra.
- Pedinte? Neneco, pedinte é mendigo.
- É? Achei que era pretensioso, metido a sabichão.
- Ah! Você quis dizer pedâneo.
- Não, eu quis dizer pedinte mesmo, porque eu achava que era o que eu queria dizer. Não ia querer dizer pedâneo, se eu nem nunca ouvi essa palavra na minha vida! Caramba, Cabelo, você também às vezes é pedinte com esse negócio de palavra.
- Tá, Nen, não precisa ficar nervosinho, não tá mais aqui quem falou. Voltemos ao “Alceu dispor”. Neneco, o cara ouviu tiros e fugiu.
- E daí?
- Tiros, Neneco.
- E DAÍ?
- DAÍ QUE A PORRA DO VELHO MORREU ESFAQUEADO! SERÁ QUE EU TENHO QUE FICAR TE LEMBRANDO ISSO TODA HORA?
- Hum, não tinha pensado nisso.
- Fora que ele é a primeira pessoa que interrogamos que fala sobre tiros (aliás, Neneco, não adianta ficar perguntando coisas pra televisão, vídeos não respondem).
- Bem observado, meu caro Cabelo. Acho que estamos cada vez mais perto da solução desse mistério.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Alceu, o Biógrafo

Falar o que aconteceu? Tudo bem, pra mim é fácil. Vivo disso. Falar o que aconteceu, está bem. Falar o que acontecerá? Não, isso não me pedem. Tudo bem, não sou vidente. Mas ainda pedem pra eu falar o que aconteceu de graça! Ora, isso não é mais meu trabalho.

Pois bem, primeiro vou me apresentar para evitar confusões com algum desses criminosos que tiveram a pachorra de assassinar meu grande amigo Austregésilo. Me chamo Alceu, Alceu Silvino Garcia, ao seu dispor. Percebeu o que eu fiz nessa frase? Chama trocadilho. É uma coisa que nós, escritores, fazemos... (risos) É para poucos...

Enfim, sempre escrevi muito. Tenho dois romances, nenhum publicado. Me recuso a me rebaixar a esse mercado editorial que só quer explorar. Esse é o papel de nós, artistas... (joga o cachecol para trás) Mas enfim, se vocês quiserem ler, ou, sei lá, tiverem uma editora e quiserem publicar, tô aí.

Estudei com Austregésilo por algum tempo, na juventude, antes da minha família perder tudo. Viventes da cultura passam por dificuldades antes do reconhecimento da genialidade aparecer. (ouvem-se algumas risadas no fundo, Alceu responde mostrando o dedo do meio e volta ao depoimento).

Depois desses contatos, nos encontramos poucas vezes até que, três meses atrás, recebi um telefonema de Austregésilo. Queria saber se sou escritor, mesmo. Lógico que respondi que sim. Ele disse “Ótimo, venha ao meu escritório hoje”. (as aspas foram feitas com os dedos do biógrafo) Fui, e ele me disse que, por causa de sua longa carreira, queria ser biografado. Pagaria bem, o meu trabalho seria todo publicado e financiado pela empresa. Sou um artista independente, mas o dinheiro me viria a calhar. Seria interessante me afastar da minha ficção lúdica e, entretanto, profunda, para me aventurar na exploração da vida de um reles mortal.

(nisso, ao fundo, uma voz feminina rouca grita “Alceu, já foi me buscar o joelho de porco? O hóme do açougue não vai segurar por muito tempo aquele preço, ô!”. Alceu grita “Já vai, tia” e continua a falar para a câmera.)

Acertamos os detalhes e, então, passei esses meses revirando fatos e mais fatos da vida de Austregésilo. Enquanto analisava de perto a sua extensa coleção de revistas pornográficas, vi cair um envelope assinalado como confidencial. Abri o envelope e vi, dentro dele, uma chave e um endereço. Como tinha que sair para comprar lenços de papel, para manter a higiente durante a pesquisa do dia, resolvi conferir o que aquela chave escondia.

Demorei a achar o endereço, pois nós, artistas, costumamos ter o senso de direção semelhante ao de um passarinho bêbado. Era um galpão velho, trancado a cadeado. A chave encaixou perfeitamente, e consegui entrar. Lá dentro, um freezer. Abri o freezer e não poderia ficar mais chocado: estavam lá uma perna humana e um disco do Roberto Carlos. O disco estava autografado, e com um recado: “Obrigado por guardar meu segredo. Se soubessem dos meus seis dedos, jamais seria considerado rei. Agradeço profundamente, mas peço com todas minhas forças, guarde sigilo! PS: Valeu também pela perna de pau. Um charme! Adoro me vestir de pirata mesmo, unimos o útil ao agradável.”

Era uma bomba! Não poderia deixar passar um fato de tamanha importância fora da biografia. No dia da festa organizada para Austregésilo, fui conversar com ele. Ele me proibiu de publicar qualquer coisa relacionada à sua relação bizarra com Roberto Carlos. Brigamos muito, e resolvi continuar meu trabalho longe dele. E ainda gritei “Biografia de vivo não vende nada se não tiver escândalo!”. Ele continuou gritando asneiras, mas dei meia volta e saí. Pouco tempo depois, ouvi barulhos de tiro. Estou tão aflito com a morte de Austregésilo quanto qualquer outra pessoa, e sinto muito por sua família. Mas nós, artistas, colocamos o trabalho em primeiro lugar!

Por isso estou viajando. Esse é um trabalho voltado ao mercado editorial, por mais que eu o evite. Tenho todo o direito de vender essa biografia para uma editora, e ninguém vai me proibir! Estou concluindo o livro, enquanto moro com minha tia e ajudo ela a cozinhar pra fora. Depois, vou ter o meu reconhecimento como escritor.

Aliás, agora vou declamar um poema que fiz em homenagem à minha tia: (ergue uma mão para o ar, faz cara de sentimento e declama, sentimental) “Joelho de porco, oh, pobre porquinho manco...”

(Ele continua a declamar por alguns minutos, até que a sua tia lhe manda buscar o joelho de porco debaixo de tapas.)

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Interlúdio 7

- Bom, Cabelo, já tomamos o depoimento do carpinteiro bolado, da chacrete celebration, do anjo morto-vivo, do escritor e do altão. Quem falta?
- Sei lá quem falta. Como eu vou saber?
- Porra, você é o mordomo, devia ter uma lista dos convidados!
- Lista? Deixa eu ver, tenho umas listas aqui sim: hum, não, essa é da lavanderia, essa do mercado e essa com os filmes que eu quero alugar. Toda vez que eu vou na locadora me dá um branco, então vou anotando tudo aqui, ó, quer ver: "Obsessão, do Frotinha", "filme da Rita Cadillac", "Cidadão Ka..."
- Não quero saber o que você quer alugar, Cabelo! Quero saber, pelo menos, se todo mundo que tava aqui vai dar ou já deu um depoimento!
- Agora que você mencionou... Parece que alguém foi embora. Eu vi de longe, mas não sei bem o que aconteceu.
- E por que você não barrou o figura?
- Porque eu estava ocupado, anotando um filme na minha lista.
- Espero que seja um ótimo filme, Cabelo, para você ter deixado alguém escapar.
- E era: “Murder by Death”.
- Hum, esse aí é bom mesmo. Mas o que vamos fazer com o cara que se mandou?
- Ah, não esquenta, não. Me avisaram que ele deu a palavra de honra que mandaria um vídeo.
- E você acredita em palavra de honra, Cabelo?!
- Ué, claro que acredito! Quando me contratou, o Austregésilo, por exemplo, deu a palavra de honra dele que eu ganharia até 10 mil sem sair de casa.
- Mas você ganha 10 paus?
- Eu ganho 500 por mês, mais vale transporte. Ele disse "até 10 mil".
- E esse lance de trabalhar em casa?
- Então, quando aceitei, tive de me mudar para cá.
- Sei.
- De qualquer forma, a empregada me disse que chegou um pacote do tamanho de um livro escrito: “Alceu, o biógrafo”. Deve ser o vídeo, vou lá pegar. Aliás, fita de vídeo, que coisa mais século passado, vou ter que pegar também o aparelho lá no sótão, já volto.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Interlúdio 6

- Cara... Nunca ouvi nada mais estranho!
- Podecrê, Neneco! O Ronald diz que viu o Austregésilo antes de ir à lavanderia, onde encontrou com o Von Doscht e trocou de camiseta. Mas o Von Doscht disse que viu o Austregésilo – e com uma faca nas costas – antes da suposta fumaceira que o Velho levantou com o Ronald!
- Hã? Do que você está falando?
- Dos depoimentos, Neneco! Os depoimentos deles não batem, não é isso que é estranho?
- Ah, não! Por estranho eu estava me referindo ao combo trakinas com mortadela. Será que dá um bom blend?
(...)
- A propósito, esse cara não parece aquele ator?
- Que ator?
- Aquele que fez aquele filme que ele é um jogador de basquete.
- Não tô lembrado, mas com esse tamanho, em vez de estar traficando, ele devia mesmo jogar basquete!
- É, mas o moleque é talentoso. Viu a idéia dele do carnê? Empreendedorismo, é disso que o Brasil precisa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Ronald Rios

Eu não matei o cara. Eu sei que parece muito óbvio e suspeito chegar falando isso, mas o que vocês queriam que eu fizesse? Chegasse comentando a prisão da Paris Hilton? Chegasse falando da versão extendida de "One Night In Paris", com mais uma hora de boquete-com-nojinho? Chegasse falando da versão brasileira do Simple Life, programa que lá fora é estrelado pela Paris Hilton? Eu aposto que alguém falou sim para alguma dessas - se não para todas as - alternativas. Então vou falar:

- 23 dias, cara. Em prisão especial. Quando saiu, lhe foi oferecido 1,5 milhão de dólares para dar uma entrevista. Quando pegaram o Tracy Morgan, fizeram o louco usar uma coleira. É um mundo muito bom para ser branco.

- Não vai ter anal. Paris Hilton não tem cara de que topa anal. Paris Hilton fazendo anal é tão impossível quanto eu ser o cara ali nesse anal. A versão extendida de de One Night In Paris será mais uma hora daquele boquete com a vontade de quem vai subir um morro. Assim, tem gente que quer subir um morro com toda a disposição. Em geral, Católicos querendo chegar na Igreja da Penha; ou viciados que queiram chegar no topo do morro para descolar sua farinha do dia. Porque sim, existem viciados que sobem morro por não saberem que existem bocas ao nível do mar. Mas então, sabe essa disposição? Não é a disposição da Paris chupando.

- Menor idéia de quem seja Ticiane Pinheiro. Mas Karina Bacchi é A Mulher do Piercing no Clitóris. Você tem que gostar dum ser humano com essa descrição.
Mas eu não matei o velho. Éramos amigos. Tipo Karina Bacchi e Ticiane Pinheiro. Eu ouvia suas histórias e ele comprava minha erva. Eu disse erva? Avon, eu disse Avon. Esse teclado tá meio ruim.

Ok, erva. Buh. Me prenda!

Péra, não me prenda. Um crime de cada vez.

Então ele comprava minha erva e ficávamos conversando por horas. Era um coroa divertido. Às vezes atrasava no pagamento, mas não dá para confiar na memória de quem fuma maconha para te pagar, né? Por isso eu fiz um carnê. É feito com um papel bem duro, para o cliente não fazer de seda na hora do aperto. E quando tira a folhinha, pode usar aquela folha menor - aquela que sobra, sabe? - de filtro pro baseado. Esse sistema me dá um certo orgulho. Todo mundo se diverte e não esquece de me pagar.

"E se perder o carnê?"

Bom, foi o que aconteceu com o Austregésilo. Ele havia atrasado o pagamento do carnê. Mas antes que levantem a hipótese deu ter matado o velho por atraso, eu já aviso: eu não mato meus clientes. Simplesmente porque meus clientes eram todos velhos e tem o Estatuto do Idoso rolando aê. Ninguém que desrespeitar essas leis.

Meus clientes eram velhos porque eu decidi pegar um mercado que não pode subir favela, assim eu não me metia em confusão com as facções criminosas. Essa galera às vezes pode ser meio agressiva. Mas eu não, eu tento vender o meu bagulho na base da camaradagem. Converso, preparo um lanchinho, e enrolo para os que têm mão muito trêmula.

E enrolando um para o Austregésilo, conversávamos:

- Mas o senhor vai me pagar hoje, não é Astra?
- Sim, Ronald.

Gostava do Austregésilo porque ele sempre me chamava de Ronald, que ao contrário de todos os velhinhos de histórias fictícias, sempre chamam as pessoas de "meu filho". Pela idade, não deveriam falar "meu neto"?

- Bacana. Porque eu gosto muito do senhor para te matar.
- Hahahaha! Você sempre fazendo essas piadas de homicídio a quem está inadimplente!
- Isso, essas... essas piadas. Mas me diz, vai me pagar, né? Pega a carteira antes de acender a vela, Astra.
- Pagar o quê?
- O bagulho de semana passada.
- SEMANA PASSADA EU ERA O ROMÁRIO DEIXA O BAGULHO DE SEMANA PASSADA PRA SEMANA OITAVA.

Num vacilo onde tinha largado o baseado para pegar o peito de peru numas de preparar o lanche da larica, o Astra já havia acendido o beque. Confesso que fiquei nervoso. Eu tava contando com aquele dinheiro para pagar a minha natação. Já ia ser o segundo mês consecutivo que eu não iria pra natação por culpa do Austregésilo.

Não mexe com o dinheiro da minha natação.

Mas me acalmei e deixei passar esse vacilo do Astra. Não me acalmei do nada, é claro. Como dali não ia sair muita coisa, resolvi fumar unzinho para fazer a cobrança depois.

Veio a larica.

E o Astra comendo Trakinas com mortadela.

Mas eu não, eu tenho uma larica diferente.

Eu gosto de me vestir.

Coloco sapato bico-fino, bota de cowboy, chapéu de marinheiro, tubinho preto, a porra toda.
E saí na vibe de arrumar uma camisa de botão limpinha. A minha tava toda suja de Tang de Morango. E foi isso que fiz o resto da noite.

Quando saí do quarto, o Astra tava se acabando no Sucrilhos com Sprite. E é assim que ele vai ficar na minha memória.

Vai com Kellogg, Astra.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Interlúdio 5

- Hahaha, Cabelo, você mandou o figura pra lavanderia?
- Idéia do Austré. Ninguém pode dizer que o velho fela não tinha senso de humor.
- “Viagem no tempo”, grande porcaria. O cara devia era escrever um livro sobre como envelhecer sem rugas. Você viu a foto? Parece que ele tem 19 anos!
- E os cabelos?
- Pois é. E os seus Telinho, que já tá dando pra contar nos dedos...
- Vida injusta... Não me chama de Telinho! Ei, você não me disse que tinha encontrado alguém com a camisa empapada de sangue.
- Não era eu.
- Como assim, não era você?
- Não era eu, eu nunca vi esse cara.
- E a camiseta? Ele disse que entregou pra você.
- Bom, vou procurar, mas como não era eu na hora que ele me deu, vai ser complicado eu me lembrar de onde coloquei. Fora que é incólume revistar essa casa inteira.
- Mesquita, Mesquita... você sabe o que é incólume?
- Claro que sei. É o mesmo que “necessário”. Não?
- Tsc, tsc... Aprenda com o papai: “incólume” é uma classe de insetos, anta.